domingo, 4 de outubro de 2009

Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo muda vida de muitas pessoas

Associação promove procissão até Aparecida e mostra duas realidades diferentes

Cintia de Oliveira Refundini, 18 anos, estudante de jornalismo, católica praticante, resolveu ir a uma procissão. O percurso era seguir a pé de Campos do Jordão até a cidade de Aparecida do Norte, cerca de 250 pessoas seguiram nessa caminhada.
A procissão foi organizada pela ATST (Associação dos trabalhadores Sem Terra de São Paulo), e pelo grupo de católicos “Comunhão e Libertação”. Nessa caminhada estavam além dos fiéis, estudantes que fazem parte da Associação. Cintia foi empolgada, afinal era com um grande propósito: “nunca tinha ido a Aparecida com tanta gente, fiquei muito emocionada”.
Cintia fez muitas amizades, e logo no primeiro dia conheceu uma menina, que parecia ter a sua idade. Ela não quis divulgar o nome, por isso será chamada de “Maria”. Ao longo co caminho, Cintia viu que a garota não tinha muitas histórias para contar. Seu olhar era triste, não ria de quase nada, apenas escutava. No final do dia, por volta das 17h, já era hora de parar, fazer as barracas e dormir.
Maria não tinha colchão, e nem pediu à ninguém. Cintia logo arrumou um e deu à menina. “Nossa você não pode dormir no chão, pode pegar!”. A garota com os olhos cheio de lágrimas disse: “nunca ganhei nada de ninguém, muito menos uma pessoa fez isso por mim”. Cintia muito emocionada argumentou: “parece que sua vida é muito sofrida, não é? “Vim do Rio de Janeiro, apadrinhada de um membro da igreja. Não sou católica e nem frequento, mas como sofro com um problema que dificilmente tem cura, resolvi vir. Não tenho apoio da minha família nem amigos. Você nem imagina o que passo”, completa a menina chorando.
Cintia então, se aproximou ainda mais de Maria. Acordavam às 7h da manhã e caminhavam até as 17h. Faziam as barracas, comiam e iam dormir. Ela percebeu que tudo o que a menina comia, ela sentia – se muito bem e ficava até melhor, dava risadas. “Muito estranho, tudo para ela começou a virar festa, motivo de dar gargalhadas, achei diferente,” completa Cintia. Logo Maria revelou: “sabe por que eu fico tão feliz quando como? Sofro de bulimia há muito tempo, e aqui nenhuma vez passei mal ou senti vontade de vomitar ou provocá-lo, deve ser por me sentir tão bem acolhida que meu organismo se deu bem”.
Após quatro dias de caminhada, chegaram a Aparecida e assistiram uma missa. Na hora de partir, Cintia e Maria trocaram contatos, e parecia que a amizade iria ser duradoura apesar da distância. Ela sentiu que a menina tinha se curado de seu problema de saúde e emocional, ou pelo menos tivesse melhorado. “Nunca conheci uma garota tão nova e com tantos problemas, um gesto tão simples a fez desabar em lágrimas, realmente as pessoas precisam de Deus no coração. E o apoio da família e amigos é fundamental, além de alguém para conversar e desabafar também se torna muito importante.”
Depois de alguns dias Cintia tentou contato com Maria, mas ela não retornou. “Talvez pela distância ela viu que a amizade não tinha como continuar ou pode ser que ainda esteja com problemas”.
Após essa experiência Cintia sentiu que uma religião faz falta na vida de uma pessoa. “Eu sou muito abençoada por ter uma família, o apoio da minha mãe e ainda ser saudável. Ter amigos e pode estar numa faculdade, já é aonde muitas pessoas não chegam, sinto-me muito feliz pela religião que sigo. Acho que ajudei Maria de alguma forma, falei de Deus para ela e espero que tenha melhorado. Mudei depois que eu a conheci, dei mais valor as coisas”, ressalta emocionada.
ATST e Comunhão e Libertação
O movimento ATST começou em 1986, dentro de uma igreja católica na zona oeste da capital. Quando o padre perguntou: “quem poderia ser o representante de uma ação para ajudar 18 famílias que foram despejadas? Ninguém levantou a mão. “Já que nenhuma pessoa se dispôs a ajudar, eu vou escolher,” disse o sacerdote. Cleuza Zerbini, uma fiel da igreja não se prontificou, mas acabou sendo escolhida por falta de candidatos. “Eu não queria arrumar dor de cabeça para a minha vida, mas como fui escolhida por um padre, foi Deus que me escolheu,” completa Cleuza.
Cleuza, seu marido Marcos Zerbini junto com a comunidade foram à prefeitura várias vezes, até manifestações em Brasília fizeram. Mas viram que nada adiantariam ficar reivindicando sem ir à luta.
Após três anos, juntaram uma quantia com todas as pessoas e fizeram um financiamento junto à prefeitura, de uma área, não só para aquelas que foram despejadas, mas para mais 280 famílias.
Romilda de Oliveira Refundini, mãe de Cintia foi uma das que conseguiram uma casa própria após quatro anos de luta. O problema ainda não estava resolvido, pois faltava saneamento básico e asfalto. Novamente, a comunidade foi atrás, para pedir o mínimo para uma moradia digna.
De nada adiantou, após cerca de três anos de espera, juntaram vários ônibus sujos com a lama do bairro e fecharam a marginal Tietê. Não demorou muito e todo o saneamento, inclusive o tão sonhado asfalto estavam lá. Hoje já são mais de 60 mil famílias que foram ajudadas com o movimento.
Mas não era só de asfalto e saneamento básico que a comunidade estava precisando. Com a falta de infra-estrutura muitas adolescentes ficavam grávidas e outros jovens se envolvendo com drogas. Logo foi chamado o Dr. Alexandre Ferraro, especializado em clínica geral, para dar palestras sobre prevenção e abordar outros assuntos.
Dr. Ferraro não só ajudava clinicamente, mas sim dava conselhos, principalmente para os jovens. Cleuza e Zerbini logo perguntaram de onde vinha tanta bondade e paciência de ajudar e acolher tantas pessoas. Ele lisonjeado respondeu: “Sou católico e faço parte de um movimento da igreja chamado “Comunhão e Libertação”. O casal foi conhecer entusiasmado.
Iniciaram no “Comunhão e Libertação”, pois também eram católicos. Dentro da igreja conheceram uma iniciativa feita no Peru, chamada “universidade popular”. O movimento constitui em se unir para conseguir descontos em faculdades. Cleuza e Zerbini perceberam que iriam começar uma nova luta, para a melhoria da comunidade.
Cinco anos após a luta, já são mais de 40 mil estudantes universitários em várias faculdades de toda a capital.
Cintia que cursa jornalismo na UniSant’anna, tem um desconto de mais de 40%, por causa da ATST. “Minha mãe e eu conquistamos a casa própria e eu estou na faculdade devido a união de muita gente que se dispôs a ajudar pessoas que tanto sonhavam com uma moradia digna e uma faculdade. Sou voluntária da Associação desde meus 10 anos de idade, e acho uma atitude muita bonita ajudar quem precisa. O que seria de muitos estudantes se não fosse o movimento?”
Na UniSant’anna antes da ATST eram quase 3 mil alunos, após o movimento chega a 14 mil. Em sua grande maioria fazem parte do movimento. Todos inclusive os da moradia, têm que participar, uma vez por mês das reuniões e contribuir com R$ 7,00 mensais. A Associação tem também convênios de planos de saúde e descontos em escolas de inglês.
Em todas as faculdades conveniadas ficam um representante da ATST pelo menos uma vez por semana, para resolver algum problema ou esclarecer alguma dúvida. Dentro da sede da Associação existe também um grupo de estudo para quem precisa de reforço em alguma matéria.
E Cleuza diz em todas as reuniões: “Nunca desistam de seus sonhos, pois vocês não estão sozinhos, estamos juntos nessa caminhada”.

Priscila Gomes

Curtas na UniSant'anna fazem sucesso


Inclusão e tecnologia são os temas abordados nas três noites da Cinemada

As luzes se apagaram, um intérprete de libras começou por meio de sinais a explicar o que iniciava no telão. Na primeira fila da plateia, deficientes auditivos compreendem e por gestos interagem com os colegas. Logo atrás os visuais e ao lado de cada, narradores que a todo tempo cochichavam em seus ouvidos o que seus olhos não podiam ver. Esses são alguns dos expectadores da Cinemada do Centro Universitário UniSant'anna, cujo o tema principal deste ano foi “ Formas e Sentidos”.
Na bancada os alunos de Rádio e TV, Fernanda Barrichello e Aloysio Souza contam a proposta que receberam:
O desafio: era fazer um curta, cujo tema seria “Matrimônio”, com no máximo um minuto de duração. Mas eles queriam sair do óbvio, realizar algo diferente. Pensaram em um andarilho com seu fiel amigo – o cachorro. Fernanda e o grupo encontraram algumas figuras, mas perceberam que pela inconsistência e diversidade de informações não seria possível concluir as filmagens. Desejavam algo simples e que levasse emoção a quem fosse assistir.
Vinícius Gaspar um dos integrantes do grupo sugeriu uma ideia: contar a história de um professor de música deficiente visual que ele conhecia. Os amigos aprovaram e foram conhecer Fernando Luis Geraci.
Assim que chegaram foram convidados a conhecer, apesar de escuro, o maravilhoso universo de Geraci e seu cão guia Vicki. O grupo sentiu obrigação de mostrar um pouco daquele universo que poucos sabiam. De uma maneira emocionante e com cuidado de não expor Geraci desnecessariamente, fizeram as filmagens e apresentaram o resultado.
“Casamento às Cegas”: um deficiente visual segue pela rua e encontra um cachorro abandonado, começa a treiná-lo e assim se completam, se ajudam.
“Eu vejo esse vídeo como um grão de areia no oceano. Ele não mudará a opinião fortalecida na cabeça de muitos da sociedade, mas por alguns minutos vai levar o telespectador a refletir sobre suas atitudes. Depois desse curta, eu desenvolvi outros projetos na faculdade e profissionalmente,” diz Fernanda.
Nas três noites da Cinemada os temas foram: “Curta metragem um formato em crescimento”, “Novas formas de cinema – o curta pela internet e celular” e “Particularidades dos profissionais e os diversos sentidos que os curtas oferecem”. Entre os convidados a jornalista e representante da Claro, Vanessa Gabriel apresentou o Festival Claro Curtas. Nessa primeira edição o tema escolhido foi: Diversidade e Inclusão.
O tema: usando a tecnologia digital ou analógica o participante envia o vídeo com no máximo 90 segundos. Concorre a prêmios em dinheiro e uma bolsa de estudos na Espanha.
O primeiro lugar por voto popular foi Juliana Carvalho, jornalista. Cadeirante desde 2001 gravou com uma câmera de celular seu dia a dia. Num curta chamado “O que os olhos vêem as pernas não sentem”. Nas filmagens uma frase: “Como é importante celebrar a vida”. Uma deficiente visual empurra sua cadeira em um parque num dia ensolarado.
O primeiro lugar votado pelo júri foi Bruno Roberto de Souza, conhecido como “Perna”, cujo curta tem o mesmo nome. Ele não tem a perna esquerda desde criança e antes da prótese começou a usar o skate, virando uma paixão.
“Perna” ganhou 50 mil reais e uma bolsa para estudar cinema na Espanha.
“A tecnologia nesses festivais ajuda essas pessoas a mostrarem seu trabalho e assim serem reconhecidos,” diz Vanessa.
Os produtores Noel Gomes de Brito e Sandro Acrísio apresentaram o curta “Especiais”. Nesse vídeo pessoas portadoras de alguma deficiência, contam suas histórias e experiências de vida. Acrísio que não tem uma perna, fala de como é seu dia a dia e preconceitos. “Através do Kinoforum (site que promove festivais de curta), tive a oportunidade de mostrar meu trabalho e hoje sou produtor. Noel e eu temos outros projetos desse tipo com temas sociais,” acrescenta. Fala também de seu filme no cinema, chamado “O Fim da Picada”, onde Acrísio atua como o personagem “Saci Pererê.” Marcelo Godoi, diretor da Mobile Fest ( site que promove festivais de curta) apresentou uma inovação para pessoas com mobilidade reduzida: um cadeirante tira fotos dos lugares acessíveis e envia para o site da Mobile Fest. Criando um mapa de acessibilidade. “O site ajuda pessoas com mobilidade reduzida a terem seu espaço e essa nova forma de mostrar os locais acessíveis revela o quanto a tecnologia pode ser útil na vida das pessoas,” afirma Godoi.


Frases sobre o evento:

“Adorei os curtas, os temas e organização deste ano estão de parabéns!”- Priscila dos Santos, aluna do 2º semestre de jornalismo.
“A organização estava muito boa, bem melhor que os anos anteriores. Os convidados estavam muito bem preparados para o evento. Não quis participar da preparação para ter surpresa junto com os alunos, fiquei muito surpreso.” - Roberto Mecca, coordenador dos cursos de comunicação.
“O único filme que Xuxa fez sucesso foi “Amor Estranho Amor”, onde ela seduz uma criança. Hoje o longa é proibido”. - Christian Petermann, crítico de cinema.
“Vocês tem que saber inglês, pois é o idioma do mundo e do dinheiro”. - Godoi.
“Pensei que crise fosse afetar a cultura. Mas as pessoas preferiram lotar as salas de cinema para esquecer os problemas”. - Cynthia Santos, produtora da Brazucah.
“ Adorei todos os filmes, principalmente os curtas que falavam sobre inclusão.” - Acácio Filho, aluno do 2º semestre de jornalismo.
“Gostaria de ter assistido mais curtas de alunos da faculdade”. - Aloysio Souza, aluno do 6º semestre de Rádio e TV.
“Gostei muito dos brindes e cursos que foram sorteados durante os três dias”. - Beatriz Silva, aluna 3 º semestre de Publicidade e Propaganda.
“Cultura alimenta a alma”. - Fabiana Grieco, jornalista.
“Adoro curtas acho que sempre deveria exibir aqui na faculdade. As revistas distribuídas são muito boas, gosto e leio muito a Caros Amigos.”. Marinaldo Gomes, aluno do 3º semestre de jornalismo.
“Acho que iniciativas como essa motivam os alunos. O cenário nacional do cinema está aí e precisa ser mostrado.” – Igor Carvalho, aluno do 2° semestre de jornalismo.


Priscila Gomes

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Castelinho da rua Apa e suas histórias



O local foi cenário de uma tragédia nos anos 30 nunca esclarecida, e hoje leva esperança para muitas crianças e moradores de rua

Chegando à avenida São João, parece que cada passo conta um pouco da história daquele castelinho. Muitos prédios e casas antigas, lojas que vendem móveis de época, começam a entregar que aquele pedaço de bairro tem algo a nos contar. Tudo atrai e convida para quem gosta de mistérios. Em volta do castelinho, o que se vê, é a cidade evoluída, e sua antiga arquitetura desperta curiosidade. Mas o abandono do prédio deixa inconformado quem o olha e admira.
Do lado de fora, seu portão é todo enferrujado e amarrado. As pichações mostram que as pessoas encontraram com o passar do tempo novas formas de se comunicar, mas o castelinho, com suas deteriorações, nos apresenta que a evolução da cidade só o faz se acabar cada vez mais. Virou ponto de referência de um crime dos anos 30, que chocou o país e que até hoje é comentado. É conhecido como mal assombrado.
Alguns moradores mais antigos não gostam de comentar sobre o assunto, mas relatam que já ouviram choros e gritos de dentro do castelinho. Quanto aos novos vizinhos, muitos não acreditam nessas histórias, ou preferem nem acreditar. Até moradores de rua dizem que não passariam uma noite no castelinho.
O castelinho é situado na rua Apa, 236, esquina com a avenida São João, foi construído em 1912, planta que veio da França. Nele moravam Maria Cândida Guimarães dos Reis, seus filhos Armando César dos Reis de 43 anos e Álvaro César dos Reis de 45, advogados e empresários. Família muito rica e conhecida. Sobre Maria Cândida, contam que era muito boa para a vizinhança, fazia trabalhos voluntários para uma igreja no bairro de Santa Cecília.
Segundo a versão definitiva da polícia, Álvaro na noite do dia 12 de maio de 1937 assassinou o irmão, a mãe e logo em seguida se matou com dois tiros no peito.
Jornal “A Gazeta Daqui e de Fora” de 13 maio de 1937

Mas o crime até hoje não foi esclarecido, pois algumas provas da perícia sumiram. O cabo da arma que efetuou os disparos nunca foi encontrado no local. Os dois institutos que analisavam o caso estavam com informações divergentes. Na época as fotos eram feitas em vidro, sendo levados por um carro, que capotou no bairro de perdizes, quebrando-se todos. Ficaram somente fotos que jornalistas tiraram no dia do crime.
Susan Iannace, historiadora e oficial de justiça, estuda o processo do castelinho desde 1990, conta como tudo aconteceu. Susan não acredita que Álvaro seja o assassino, pois os corpos dele e do irmão estavam paralelamente na mesma posição, entre outras divergências na cena do crime. Segundo ela há muitos mistérios e contradições nesse caso.
Álvaro e Armando mortos Em frente ao castelinho na noite do crime
Jornal “A Gazeta Daqui e de Fora” de 13 maio de 1937

Tudo aconteceu porque Álvaro na época era campeão de velocidade em patinação e queria fazer um ringue para a prática do esporte, se chamaria “Palácio do Gelo”, que ele tinha visto na França. Armando divergia da opinião do irmão, porque não queria gastar todo aquele dinheiro.
Álvaro teve que viajar e Armando tomando conta de seus negócios. Quando ele voltou de viagem alguns documentos e notas promissórias haviam sido adulterados e por valores muito maiores. Muitas investigações foram feitas por Susan e outros interessados no caso, para descobrir quem realmente eram esses sócios, mas todos esses documentos foram perdidos.
Isso ocasionou conflito entre eles, mas Álvaro já havia se comprometido com seus sócios que eram as famílias “quatrocentonas”, ricas e de muitos investimentos. Moravam também na casa os empregados Elza Lengfeider, seu marido Rodolpho Lengfeider e a filha do casal Maria Aparecida.
Na noite do crime em depoimento a policia, Maria Aparecida e Rodolpho haviam saído e Elza estava sozinha. Quando ouviu alguns disparos Elza saiu correndo pela rua em busca do marido e da filha. Conforme matéria do jornal “A Gazeta Daqui e de Fora” de 13 maio de 1937.
Um ano depois o caso foi arquivado e dado por encerrado. Na época, parentes colaterais como sobrinhos e primos não tinham direito a receber herança. Sendo feito um leilão de todos os móveis da casa. O prédio ficou para o Departamento do Patrimônio da União até 1951, quando a receita federal ocupou.
Já na década de 40 morou por cerca de quatro anos no castelinho, Anchizes Pinto, o palhaço “Ankito”. Numa entrevista dada a Susan ele dizia que ouvia muitos passos, portas se abrindo e fechando e torneiras sendo abertas. Mas o palhaço não tinha medo e até comentou: “É uma pena que tudo isso está se acabando”. Ele era um apaixonado pelo local. “Ankito” morreu em 30 de março desse ano, aos 85 anos.
Ankito na década de 40 Ankito em 2007
Logo depois morou por cerca de 20 anos outra família, que também relatava a vizinhos que escutava passos e muitos barulhos, mas nada impediu de continuar lá.
Na década de 80 ficou abandonado, virando um ferro velho e depósito de sucatas.
Jornais de 1988 anunciavam o abandono e o filme “Fogo e Paixão” com Fernanda Montenegro

Surge Maria Eulina dos Reis, na época uma moradora de rua e sonhadora, que dizia: “Um dia esse castelinho vai ser meu”. Maria Eulina, vendo todo aquele prédio sendo destruído pelo tempo e esquecido pelas autoridades, começou a lutar pelo imóvel.
No ano de 1990, Susan resolve entrar com processo de tombamento e pedido de restauração.
Em 1997 Maria Eulina consegue o que tanto sonhava. O prédio continuava pertencendo à União, mas foi cedido a ela para que utilizasse o espaço. Concretizando o sonho que era ajudar moradores de rua e lutar para a reforma do seu tão sonhado castelo.
Somente em 2004 o castelinho foi tombado.
Dentro do castelinho pelas fotos mostram que não tem condições de se instalar, pois está muito deteriorado. Algumas paredes e parte do teto são escoradas com pedaços de madeiras. Com a ajuda de algumas empresas voluntárias, foi comprado um imóvel ao lado para que pudesse funcionar o projeto de Maria Eulina.
Parede do castelinho sem o teto Parte do teto escorada com madeiras

No prédio ao lado funciona a ONG (Organização Não Governamental) chamada “Clube de Mães do Brasil”, que ajuda moradores de rua, servindo refeições. Alguns tomam banho e até são voluntários, fazem a entrega de refeições daqueles que estão longe dali, limpam o local entre outros serviços.
Logo pela manhã por volta das 8h30, na ONG, Maria Eulina prepara o almoço, muito nervosa não queria parar para conversar. Mas logo foi cedendo e contando muito empolgada sobre seus projetos. Relatou muito emocionada que está com câncer e fazendo tratamento no hospital Emílio Ribas. Ela conta que a doença veio para que ficasse ainda mais forte e assim continuar lutando.
Existe o trabalho com crianças carentes, algumas delas moradoras de rua ou de favela. Lá tem aulas gratuitas de capoeira, alfabetização, sala de jogos e até informática. Maria Eulina relata: “Quem diria que um dia eu pudesse plantar sementinhas de esperança de uma vida melhor no coração de cada criança dessa, e eu que tanta fome passei hoje sirvo comida”. Ela sonha em ver o castelo reformado para dar continuidade ao seu projeto, diz que seria mais um sonho realizado. Pretende também escrever seu próprio livro contando tudo o que já passou e as histórias que já ouviu dessas pessoas que tanto sofrem nas ruas.
Maria Eulina conta que semana passada estava andando pela rua e um rapaz a abordou e perguntou: “Lembra-se de mim?”. Ela respondeu que não. E ele disse: “Você não se lembra de mim, mas em 1997 eu era um viciado e mesmo assim você me acolheu, e falou tudo o que eu merecia ouvir, que era para eu sair dessa vida, pois Deus não gostava daquilo que estava vendo. Hoje sou casado, tenho uma filha e nunca vou me esquecer de tudo o que fez por mim.” Maria Eulina fala emocionada: “É isso que me dá forças para continuar lutando todos os dias.” Ela foi até inspiradora de um livro chamado “Ser mão é tudo de bom”, de Barbara Heliodora, contando histórias de mães famosas que relatam suas experiências como amamentar, cuidar de um filho entre outros gestos de amor.
Maria Eulina Maria Eulina na cozinha da ONG

Edmar Matoso mora com seus quatro filhos na rua enquanto seu marido está preso.Edmar conta que é preciso doar um de seus filhos para quem quiser cuidar, pois ela não tem condições de criar. Durante a entrevista, apareceu uma senhora que não quis se identificar e disse que uma amiga gostaria de adotar uma criança. Maria Eulina não deixou que a conversa se estendesse, pois foi logo dizendo as duas, teriam que ir ao juizado fazer o processo diante da lei e não no meio da rua na frente das crianças. “Sou muito grata a Maria Eulina, porque ela já matou muito a minha fome e desde que tive meu primeiro filho ela me ajuda”, diz Edmar. Marcos Ferreira Silva, morador de rua, relata: “A Maria Eulina ajuda muita gente, todos os dias eu almoço no castelinho”.
A ONG também ajuda um grupo de senhoras que não tem condições de sobreviver com a aposentadoria. Algumas empresas e pessoas doam pedaços de retalhos de panos para que elas possam confeccionar enfeites de cabelo, pulseiras, brincos, bolsas e tudo que a criatividade deixar. Aos finais de semana é feito uma feira em um salão na praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, onde as senhoras vendem suas produções e ganham seu próprio dinheiro. Elas também ajudam a ONG naquilo que podem, comprando alguns mantimentos.
No final da entrevista Maria Eulina relata uma curiosidade sobre o castelinho: Em dezembro de 2008, vieram investigadores de vários países chamados vulgarmente de caça-fantasmas. Esse grupo de investigadores chamados de Ghost Hunters International visitam locais de crimes não foram totalmente esclarecidos, ele possuem detectores de presença não humana no local, ou seja, de almas eu possam ser gravadas ou sentidas pelos detectores. Possuem gravadores de voz. Tudo é eficientemente gravaod e monitorado. O grupo ficou uma semana no castelinho. Fizeram várias perguntas a todo tempo, durante o dia e noite. Ao irem ao estúdio com todo o material, mostram nas gravações os investigadores perguntando: “Maria Cândida quem a matou?” Na gravação se ouve nitidamente uma voz feminina respondendo: “Eduardo”.
Uma cópia do DVD foi dada a Maria Eulina e ela não pensou duas vezes e forneceu outra cópia a Susan. Maria eulina acredita que realmente as três almas estão ali no castelinho, porém não teme e não se preocupa em saber que os matou. Apenas diz: “Sei que essa família está muito feliz por tudo o que faço por esse povo tão sofrido”.
Susan após receber a cópia do filme relata: “Esse castelinho sempre terá mistérios para nos surpreender”.


Priscila Gomes

domingo, 5 de abril de 2009

Torne-se um herói da vida real


“AMEO” próximo e seja um doador de medula óssea

No ano de 2000 o Ministério da Saúde, estabeleceu um programa possibilitando a realização do transplante de medula óssea entre indivíduos não aparentados. Esse foi o primeiro grande passo dentre todas as dificuldades que eram encontradas ao se realizar uma doação, porém havia mais problemas. Eram insuficientes os números de doadores cadastrados e os leitos para esse tipo de transplante. A população tinha menos conhecimento do que hoje sobre esse procedimento, pois não se via iniciativa do governo a campanhas. Entretanto o transplante de medula era praticamente impossível, segundo informações da AMEO (Associação da Medula Óssea).
Ao acompanhar todas essas dificuldades, profissionais da área da saúde, pacientes e seus familiares se reuniram e organizaram em 2002, no Hemocentro da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, a AMEO - que é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), tendo na época apenas 12 mil doadores cadastrados do REDOME (Registro de Doadores de Medula Óssea), de acordo com o site http://www.ameo.org.br/.
Segundo Taís de Souza, hematologista do Hospital Santa Cecília, medula óssea é o tecido encontrado no interior dos ossos, conhecido como “tutano”, nada tem a ver com a medula espinhal e tem a função de produzir as células sanguíneas: glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas. Pessoas com saúde em bom estado e que tenham entre 18 e 55 anos podem fazer doação. Quem possui doenças como leucemia, aplasia de medula óssea ou algumas doenças genéticas necessitam de transplante.
Denise Maknavinicius, coordenadora da ONG (Organização Não Governamental) relata que a pouca divulgação do que é doação de medula faz com que várias pessoas desconheçam que podem ser possíveis doadores, e que a chance de encontrar uma medula compatível é em média de 1 em 100 mil, por isso é necessário um grande número de voluntários registrados no REDOME para que pacientes tenham mais chances de encontrar um doador.
A AMEO faz a divulgação de doação de medula para conscientizar as pessoas do que é o processo, quem pode ser doador, quais as formas, como os pacientes recebem a medula, enfim mobilizar a população para quem sabe salvar mais vidas.
Todos os meses acontecem campanhas móveis para captação de doação de medula em várias cidades. A estudante Letícia Zago mora em Atibaia e lá aconteceu essa mobilização. Como já é doadora de sangue se interessou pela causa e se cadastrou. Depois de 2 anos ela recebeu uma ligação informando que era compatível, e relata:“Na época da doação eu estava numa fase muito difícil e Deus me proporcionou salvar uma vida”.
Kelly Brito, corretora, cerca de 1 ano atrás, recebeu um e-mail de um menino chamado Gabriel pedindo a sua ajuda. Ele tinha leucemia e precisava de um doador. Achando que seria impossível ser compatível com aquele garoto, nem pensou em fazer o teste. Há 1 mês Kelly resolveu jogar seus e-mails fora e leu novamente a mensagem do garoto, que a emocionou. A partir daí criou coragem e foi até a Santa Casa de Misericórdia informar-se. Lá conheceu várias pessoas em tratamento e logo animou-se em fazer o cadastro para doação. “O importante agora é saber que a qualquer momento meu telefone irá tocar me avisando que salvarei uma vida”, diz Kelly.
Mirna Ayumi, 14 anos, recebeu medula óssea de um doador não aparentado cadastrado no REDOME. "As minhas chances de encontrar um doador compatível no Brasil eram de uma em um milhão, e consegui. Alguém iluminado, com grande espírito de solidariedade e amor ao próximo se cadastrou como doador e salvou minha vida. Meu sentimento é de imensa gratidão e alegria. Obrigada a todos os doadores voluntários, vocês estão doando amor, esperança e vida a todos nós!”
Segundo a ONG, até março de 2008 foram cadastrados diretamente 140 mil doadores. Hoje no Redome, o número é ainda maior, e chega há 980 mil.

Priscila Gomes